Baixo, Podre e Cruel (ou do meu encontro com Tadeus Kantor) - PARTE 1

>> quarta-feira, 15 de abril de 2009






Pesquisar dói, dói como um carro que ao atravessar a estrada, colide. Tadeus Kantor atravessou-me, assim, o pensamento. Que dor! Uma dor, dessas, como de uma água que nos parece insuportável. Como me aconteci com ele?Ou como ele aconteceu comigo? Fui num dias desses, numa performance dessas, quando finalmente me propus a escrever, esse momento de gaguejar na língua.





O Teatro de Tadeus não é um teatro como os outros – mas é um jogo de afecções mútuas, uma poesia da catástrofe humana, como nos define Lehmann, daquilo que nos é de mais baixo, podre e, portanto, cruel.



“Permitam-me, Supremos Juízes apresentar-vos meu credo solene, meu desafio e minha provocação. Permito-me recordar-vos que o método fundamental (se posso exprimir-me de maneira tão patética) de meu trabalho é e era a fascinação pela realidade que denominei REALIDADE DO NÍVEL MAIS BAIXO. É ela que explica meus quadros, minhas Embalagens, meus Objetos Pobres e também meus Personagens Pobres, os quais como vários filhos pródigos, retornam na miséria a suas casas natais. (…)”




Kantor opera à volta do objeto, mas um objeto pobre e miserável.O objeto estava vazio. Ele tinha que justificar sua existência mais para si mesmo do que para as circunstâncias estranhas a ele. [E ao fazer isso, o objeto] revelou sua própria existência”.O ator é tanto um ator-objeto quanto o objeto é um objeto-ator. Há uma precisão cósmica, uma partitura coreográfica de gestos e movimentos musicalmente precisa. Um intervalo de uma velocidade, define assim esse jogo cênico da precisão, o coreógrafo Luis Carlos Garrocho.




A encenação de Kantor é um fluxo de imagens em movimento, como bem afirma Lehmann. Quadros se sucedem, se repetem, se contradizem, num crescente de um delírio cênico, de uma paisagem em permanente estado de transformação. Como um rio que só adquire velocidade pelo meio. Os personagens não têm um destino, até mesmo perdem a possibilidade de se afirmarem como tais. Um fluxo material e expressivo numa sintaxe disjuntiva.


(Deleuze, isso não é?).



“O t e a t r o - continuo a insistir - é o l u g a r q u e r e v e l a, como um s e g r e d o g u a r d a d o n o r i o, as armas da ‘passagem’ ‘da outra margem’ para a nossa vida. Diante dos olhos do espectador se apresenta o ATOR que assume a condição do MORTO. O espetáculo, com seu caráter de rito e cerimônia, se torna um c h o q u e . E eu o chamarei, com muito prazer, m e t a f í s i c o.”






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